encontrar o poema sentimento súbito no blogue do nelson rossano e com ilustração do malangatana
que conheci pessoalmente na cidade de évora
me arremessou aqui
e agora sou mais uma do time
desculpem se vier muita poesia
15.06.2006
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14 comments:
não há coincidência
ele falou como quem dispensa um mendigo embriagado
não há coincidência
ele falou como quem vira o rosto
sem paciência mais para nada
não há coincidência
e tudo ficou doendo e ferindo e fazendo o afeto incômodo
não há coincidência
mas como alimentou esse olhar platonizado
não há coincidência
de que serve a poesia se não me leva até seus braços ?
cassiel
nascido para deus desejou o mundo humano
e quis participar do circo mas guardava
o sobrenatural no olhar com que cruzava
minha vida banal entre papéis de entulho
naquelas madrugadas de extrema solidão
nascido para deus sempre mostrou desejo
por esta projeção holográfica de mim mesma
se ficou predisposto foi culpa do que escrevo
aura de benjamin que atrai e afasta ao mesmo tempo
eu soube combater com formal indiferença
toda essa inclinação evidente e precisa
é um jogo perigoso provocar as feiticeiras
inda que seja um ajo chamado cassiel
aventura terrestre de quimeras feitas
em derredor de um destino entre a fatalidade e a alucinação
uma nota ao pé de página não te ajudará a entender
meu ser errático e ambíguo ao som do violocelo
ensaiando gestos grotescos e sublimes para o encontro do início
mas agora está ficando evidente o quanto estou disponível
o quanto eu sou resultado de uma relação partida
embora eu não seja sylvia e não me suicide
embora eu não seja virgínia e não me atire no rio
hangar 2006
são dez anos no jejum da virgem
loucura de fantasmas de bruxedos e adivinhas
neste hangar já passaram estranhas aeronaves
sei que você me deseja anjo de outras viagens
a sua proximidade transforma o meu sonho em carne
vontade de adormecer sem sentir a seu lado
e reviver outro tempo de carícias e cuidados
por que vieste cassiel
se tu não és deste mundo
descansar sob esta árvore ?
HANGAR 2006
A NÓS
me deixe quieta no meu desespero
desfrute o externo do meu social
tudo em mim é quebrado e eu tenho medo
na minha vida nunca houve um nós
você quis referir-se à amizade
novo conhecimento que se faz
mas seu brinde doeu como um desastre
na minha vida nunca houve um nós
teatro subterrâneo
teoria da consumação
valet de chambre
serviçal de um samurai
descida sem escafandro
perdendo o pé
lua destemperada
eclipse inesperada
download
anagrama anatômico
deletando conexão
a isso chamam amizade
melhor ficar em casa
a isso chamam amizade
melhor não dizer nada
a isso chamam amizade
o susto o ar sufocado
o coração disparado
a insonia de madrugada
a isso chamam amizade
quando a loucura se instala
não há pílulas nem baladas
nem livros nem seminários
nem internet nem salas
de cinema esvaziadas
nem praias nem shopping centers
nem celulares de câmera
nem os casacos de renda
de couro ou saias ciganas
nem batom preto ou vermelho
nem gargantilhas de sade
nem olhares nem poemas
nem aulas nem gentilezas
quando a loucura se instala
para alguma coisa há de servir
toda uma vida dedicada a ti
poesia esse estranho anjo da guarda
não há de ser para a fama
nem me fará mais amada
nem aplausos no palanque
nem no circo já sem lona
pirâmides de livros pela casa
qualquer dia toco fogo
e paro e sumo e me calo
mas há de servir para algo
a palavra entrecortada
o coração desabrido
a poesia ignorada
para salvar um amigo
do terror do suicídio
há de servir para algo
silêncio do outro lado desta máquina
amiga da solidão nas madrugadas
consequência de uma fala dsgarrada
não há mensagens na caixa de entrada
por que são tão distantes as palavras ?
por que tanto nos perturbam nessa estrada
inútil que passamos para nada ?
ridícula insistência
retorno ao desamparo
poesia é sempre esse certificado
de que a nossa vida está dando errado
mas tudo continua com seu fado
devo me segurar
em tudo o que tem proximidade
nessas coisas concretas
que estão sempre do nosso lado
devo continuar
quem sabe algo acontece a qualquer hora
mas sei que tudo afastam
meus sonhos e delírios e palavras
uma voz me sussurra
catabase
o telefone toca
alguém que também estava solitário
angustiadamente imóvel diante do passar da idade
memórias
estória de cada um
fugindo da repressão pelos jardins do palácio
por que a fixação em um somente
se são tantos em torno a precisar cuidados ?
derrama a tua voz e o teu corpo
por todos que puderes dar conforto
sem medo do juízo que condena
da crítica banal que te exorciza
invade demoníaca e divina
com teu imaginário sem limite
dos que estão perto ocupa-lhes a vida
salvando-os da vã monotonia
missa negra
meus olhos são de outro mundo
e minha face inexiste
como a de um ser de outro plano
escuta a minha voz sobre o oceano
eu sou completamente sobrehumana
e só por isso sou interessante
margulha na loucura neste instante
em que te contamino do meu transe
o livro proibido a página perdida
a conjunção das nove iluminuras
no ponto exato a porta de saída
religião da carne em seu ofício
nudez sobre o trapézio voador
só isto era o demônio : a natureza
toda a força vital no resplendor
o que eu falo e o que eu escrevo
não quero que seduzam
o teu corpo sensível no hangar de parta
toca-me lentamente sem dizer mais nada
e o resto há de ser sonho vão delírio abstrato
o resto eu não componho
ainda que não verbalize
sinto que ocorreu algo
ligeiramente irremediável
saiu de cena
fiquei dispersa e deslocada
era noite de sábado
saiu de cena
um jeito rude de eliminar meu salto
no circo dolorido e improvisado
saiu de cena
e de maneira sádica
me disse para continuar
escrevendo cartas
Olá espero que me continue a visitar!
=)
Beijo e abraço
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