Monday, December 04, 2006

SETE ANOS ATRÁS

sem ter religião
saudade do sagrado
o canto da manhã :
memória de uma voz
distância vigilante
sintonia
golem seguindo
a máquina dos dias


sem ter religião
saudade do sagrado
chegou e despediu-se
em seu mutismo
a chuva na vidraça
e eu à deriva
devolvida a mim mesma
sem saída 10.06.1999









quando enfim viajou
eis surpresa e confusa
sua voz ao telefone
esquecendo os assuntos
passou um telegrama
na vida dera um branco
disse rosa viver
é muito perigoso


bateu na sobrevida
a miragem mais doida
de novo essa mania
por sentido nas coisas
calada ela pedia
liga domingo de novo 09.07.1999









saudade do meu corpo
e aquele jeito
de entregar-me completa
mesmo em sono
de novo solto a fúria
dos cabelos
e me ponho ao espelho
quente e nua


eu que feia me fiz
como defesa
agora sem remédio
me apaixono
eu que o corpo escondi
âncora presa
para manter melhor
minha virtude


e agora eu tremo e sonho
novamente
que a ânsia de te ver
tudo inaugura
saudade do meu corpo
e eu recupero
as curvas do meu ser
que serão tuas 11.07.1999











botei tudo a perder
numa miragem
guardar o sentimento
nunca é fácil
quebrei as entrelinhas
foi coragem
tudo arrisquei
no êxtase da tarde


leoa submissa
chora agora
tuas chaves e roteiros
sem vitória
botei tudo a perder
calamidade
tudo arrisquei
no êxtase da tarde


cantar de fingimento
não de amiga
e se romantizar
está perdida
a solidão constrói
seu teorema
na triste partitura
do poema 13.07.1999

11 comments:

amaya said...

lembro de quando o conheci na casa de maristela
lembro de você atirando para o ar na estrada velha de água fria
lembro você passando na porta de uma exposição onde eu estava com teresa

lembro de nossas tentativas de aproximação
lembro você dizendo na fundaj do derby que isso não era possível
lembro nossas intermináveis conversas ao telefone

lembro o meu encantamento por você que não era possível
primeiro porque você era o amado absoluto da amiga
segundo porque eu nunca fui o seu tipo físico

você olha para mim e pensa na literatura
eu olho para você e vejo um menino de armas no carro pelas ruas do recife
e uma vez você disse que só falava do meu jeito com você a sua mãe
e eu me lembro dela falando comigo no portão da casa à beira-mar em olinda
onde você morava cercado de pássaros e me dizia o nome deles pelo telefone

foi sempre assim mais pelo telefone que nos entendemos
e às vezes nos desentendemos


você me falando que pensaram no forum que éramos casados
você indo comigo a rio formoso resolver terras do seu tio
você caminhando no vazio do engenho massangana
você lendo para mim seus poemas em sua biblioteca
você indo comigo e sua amada à cidade de caruaru

eu defendendo você numa eleição da ube
você me culpando de tudo
você reclamando de mim durante anos nas ruas do recife
acreditando em todas as intrigas possíveis
e se afastando de mim

você querendo que fóssemos juntos a portugal
você que não entende o pavor amoroso da fuga
você achando que uma poeta pode ser calculadora etc e tal

eu
a emparedada de boa viagem
a que foi bela e não soube desfrutar
hoje exatamente há dez anos sem vida sexual
eu
a abelha laboriosa
a mãe extremosa
a amiga dadivosa
a menina que ia ser freira e queria ser santa


a sonhadora louca
treinada a vida toda para ser normal

eu um erro dos anos cinquenta que aportou na rua do lima
e se arrastou de cidade em cidade completamente perdida


você na livraria cultura dizendo palavras de alguém sobre uma mulher distante

eu a teria amado

ah

amaya said...

explicando as leis de repulsa e atração

você esmurrando a porta do meu quarto com meu marido na sala

você reclamando de mim eu sentada na escada rolante do aeroporto

você dizendo no dec que eu parecia com janis joplin

você indo na livro 7 chamar todos nós

para ver na mala do seu carro um tamanduá

você dizendo dramaticamente me espere na avenida conde da boa vista

você me estimulando a fazer um poema longo porque achava eu tinha fôlego

você brigando sempre sem motivo e eu chorando na escadaria do cac

você dizendo em tom grave que eu não tinha memória

e que isso era uma coisa muito ruim para um escritor

amaya said...

surtei completamente ao sentir que você se aproximava
e que iria destruir a única amizade intacta
perdi o chão o pégaso e o tapete mágico
a amizade não sei
deixa passar

amaya said...

impressionante como tudo passa e tudo permanece idêntico
essa praia esse sol esse azul da cidade onde aportei ainda sem caminhar
depois deixando-a para rewtornar aos quatro anos
batizada aos nove registrada aos cinco
trazendo desde a placenta a dúvida da identidade
como se tudo ouvisse dentro do murmúrio da água inicial
como se assistisse à cena do princípio desde o próprio instante da fecundação
tantos anos sobrevoando as calçadas do sul e do nordeste
para chegar à conclusão tão fácil
a qualquer um entre os banais
camões/florbela/eça de queirós
chego eu para integrar o jogo lusitano
estrangeira completamente até ouvir o sino na régua
e reconhecer no barco rabelo o futuro escandinavo do viking alexander

amaya said...

vontade de escrever sobre os que pensei amar
aqueles que lfizeram parte de uma busca romântica demais
para um país em que os poetas são funcionários e tratam da pedra como igual
continua o desejo de partir de reconhecer outra paisagem de voltar
aos sonhos que tinha na infância com árvores que não existem no brasil
meus sonhos com pinheiros/eucaliptos/árvores de natal
paisagem da galiza e norte de portugal

amaya said...

eu faço o comentário faço agora sem reservas
eu sou um oxímoro voando na cratera
sou a fusão de espaços excludentes da matéria
a minha identidade se perdeu na terra média
não encontrei gandolf nem hobbit na floresta

amaya said...

eu sou meu pseudônimo
e mudo de conversa
espelho duplaface multiplicado em leque
eu vou te atordoar
preferível que me feche

amaya said...

uma festa em um clube
sumira alguém da família
e eu não podia ir à festa
tão bela e desamparada
dancei a valsa com o irmão da amiga
depois sentei-me no banco posei na ponte de enfeite
desci os dez andares do prédio no recife
estranha madrugada
platonico amor esse
todos sempre com cuidado
o que não tiveram com ela
todos sempre em derredor
obrigada eu digo sempre
por terem tanto respeito
que nunca me foi possível
enveredar na loucura
na ausência de qualquer limite
a menina que sentava concentrada estudando frente à janela
encontrou a companhia mais adequada e sincera
esses livros em montanhas
obrigada essa aquarela
mesmo que não valha nada
a poesia foi perfeita
em sua função inteira de salvar-me na comédia

amaya said...

obrigado
foram estas as últimas palavras
que na minha memória eu quis guardar
e assim não poderei tomá-lo por ingrato
devia estar exausto de me suportar

obrigado ele disse ao receber o tempo
cronometrado em papel chegado pelo ar
gostei tanto de ti pensei mas já não posso
insistir nessa doença de ficar

amaya said...

loucura
solene essa a minha de pensar
que as pessoas que me ferem morrem logo
ou adoecem sem jamais curar

amaya said...

sei que para as terras dos sonhos de infância
um dia para sempre eu vou voltar
é o que tem que ser é o destino
pinheiros de galiza e portugal